Na época, ainda no regime soviético, o governo tentou acobertar o ocorrido. Mais de 24h depois, usinas nucleares na Suécia – que fica mais de mil km de distância –detectaram um alto nível de radiação no ar, com materiais que não eram produzidos lá. Os soviéticos continuaram negando o ocorrido, mas não demorou até que a comunidade internacional ficasse sabendo do caso.

O que é radiação

Para entender melhor os fatos de Chernobyl, é importante compreender como funciona o procedimento de geração de energia em uma usina nuclear. O processo químico conhecido como radiação é uma das bases desse entendimento. Ele consiste em emissão e propagação de energia por ondas eletromagnéticas. No caso da usina de Chernobyl, eles utilizavam um tipo de urânio instável para gerar grandes quantidades de calor (a fissão). Esse calor evapora a água e força grandes turbinas a girarem criando energia elétrica. No Brasil a maior parte da energia é gerada por hidrelétricas, que são grandes represas que giram a turbina com a força natural da água. Por isso em épocas de poucas chuvas, a conta costuma vir bem mais cara. O problema é que os elementos usados nas usinas nucleares são altamente tóxicos, demorando milhares de anos para se dissipar. Nesses casos estamos falando da radiação ionizante – que possui energia suficiente para arrancar elétrons dos átomos, causando instabilidade. A unidade de medida para contabilizar o nível de radiação é chamada de sieverts. 2 sieverts são suficientes para matar uma pessoa em poucos dias, causando queimaduras, náuseas e tumores. Já a radiação não ionizante não chega a ser tóxica para pessoas. Pedras, o solo, aparelhos eletrônicos e até mesmo a banana também emitem radiação, mas no caso desses objetos a carga não passa de 0,2 microsieverts (ênfase em micro). Com o avanço da ciência, conseguimos usar a radioatividade a nosso favor. Quando se tira um raio X, por exemplo, utiliza-se outro tipo de radiação que não é agressiva ao ser humano. Além do diagnóstico, ela é usada em tratamentos de câncer no processo de radioterapia.

Chernobyl e as consequências

Após a explosão, milhares de pessoas trabalharam durante meses para conter a contaminação. As que ficaram próximas ao local do acidente foram as mais expostas, morrendo poucos dias após o contágio. Pripyat, cidade construída para abrigar os trabalhadores da usina e seus familiares, teve que ser evacuada às pressas. Devido à demora do governo em assumir a gravidade do problema, as 100 mil pessoas que moravam em Pripyat tiveram apenas 40 minutos para arrumar os pertences. Atualmente, ela é conhecida como “cidade fantasma” e tornou-se local turístico da região. Obviamente, somente alguns locais podem ser visitados, acompanhado de um guia e materiais adequados. Areia e boro foram jogados no local para conter o fogo, que só apagou após duas semanas. Uma enorme estrutura de concreto foi construída ao redor do reator para impedir que a disseminação continuasse. Apelidada de “Sarcófago”, a estrutura só ficou pronta em dezembro de 1986, oito meses após a explosão. Em 2016, outra estrutura foi colocada na usina para conter os dejetos por pelo menos um século. O Brasil também noticiou a tragédia na época. Estimando que o total de mortos era de 2000, segundo informações da inteligência americana. Enquanto isso, a URSS afirmava que somente duas pessoas haviam morrido. Essa confusão de informações foi causada pela rivalidade dos países na Guerra Fria e a falta de transparência dos soviéticos. Veja abaixo a reportagem do Jornal Nacional: Até hoje, a Europa e a Rússia sofrem as consequências do acidente em Chernobyl. Uma área com mais de mil km² ainda está inabitável. O nível de radiação é medido nos alimentos cultivados, e com o passar dos anos a quantidade de crianças com câncer aumentou consideravelmente. Ainda não se sabe o número correto de mortes, pois os efeitos à longo prazo são devastadores. Um relatório divulgado pelo Green Peace, em 2006, estima que das 2 bilhões de pessoas afetadas no mundo, 270 mil desenvolveram algum tipo de câncer e 93 mil morreram em virtude da doença. Como esse dado é antigo, ele nos dá somente uma ideia do que o desastre causou 20 anos depois. Hoje, provavelmente, esse número seria bem maior. Três anos após a tragédia, em 1989, foi criada a Associação Mundial de Operadores Nucleares. Com sede em Londres, a instituição visa fiscalizar e evitar que desastres como Chernobyl se repitam. Todos os anos eles elaboram um relatório com o número de usinas construídas, em construção, quantidade de energia produzida e outros dados.

Outros

acidentes pela história

Three Mile Island

Localizado no estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos, o acidente na estação de Three Mile island ocorreu em 28 de março de 1979. Seguido por falhas humanas e erros no projeto, o reator número 2 da planta superaqueceu causando o derretimento do núcleo. Foram necessários cinco dias para conter o vazamento, que felizmente não fez vítimas fatais.

Fukushima

Em março de 2011 um terremoto de magnitude 8,7 atingiu a costa japonesa. Um tsunami se formou e danificou um dos reatores da Central Nuclear de Fukushima 1. Cerca de 20 km do território ao redor da usina foi evacuado. O nível de radiação disseminada foi tão grave quanto Chernobyl, porém, não houve vítimas fatais. O tsunami, no entanto, deixou cerca de 20 mil mortos ou desaparecidos.

Césio 137

O Brasil também foi protagonista de um acidente radioativo. Em Goiânia, em 1987, dois catadores de lixo encontraram um aparelho de radioterapia. O dispositivo continha químicos altamente radioativos em formato de pó – cloreto de césio. Os catadores venderam o aparelho para um ferro velho, no qual o dono (encantado com o brilho da substância) distribuiu para familiares e vizinhos. 11 pessoas morreram e mais de 600 foram contaminadas. Estima-se que mais de 100 mil pessoas foram afetadas pela exposição.

Brasil e o mundo no cenário nuclear

Mesmo com consequências catastróficas, a energia nuclear não parece intimidar a indústria. Atualmente, segundo o boletim energético da FGV Engenharia, existem 448 reatores nucleares operando em 30 países. E esse número só tende a aumentar. O Brasil possui dois reatores em atividade, Angra 1 e Angra 2, no Estado do Rio de Janeiro. Em 2017, os reatores geraram pouco mais de 2,5% da energia consumida no país. Um número tímido se comparado com a França ou a Rússia, por exemplo. Um terceiro reator, o Angra 3, está em construção há mais de 35 anos e sua obra está parada por diversos casos de corrupção que envolvem até o ex-presidente Michel Temer. Ativistas do Green Peace são totalmente contra a construção de novas instalações nucleares no Brasil. Além dos acidentes que podem ocorrer como em Chernobyl, a entidade alerta sobre o manejo do lixo atômico. Os protestos ganharam força em 2011, após o caso de Fukushima. A Alemanha, que iria fornecer equipamentos para a finalização da obra brasileira, foi um dos países que, também em 2011, firmou o compromisso de desativar todas as usinas até 2022. Especialistas em energia nuclear argumentam que ela é fundamental para o desenvolvimento do país. Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), reforça que as medidas para diminuição dos impactos ambientais são um dos pontos principais do planejamento. Ele conta que as usinas nucleares são fontes baratas, geram empregos durante a construção e produzem energia de forma contínua, sem depender do volume de chuvas. Em certos locais a energia nuclear não é apenas um assunto ambiental, mas também ético. Em regiões de frio extremo como Armênia e Rússia, a energia gerada por usinas nucleares torna-se fundamental para a sobrevivência da população. No inverno, o povo russo chega a enfrentar temperaturas de até 40 graus negativos.

Chernobyl: a série

“Qual é o custo da mentira?” Foi com essa premissa que a minissérie com 5 episódios, Chernobyl, estreou no dia 6 de maio na HBO. A produção é uma parceria com o canal britânico Sky Atlantic e terá seu desfecho na próxima segunda, dia 3. Criado por Craig Mazin (roteirista de O Caçador e a Rainha do Gelo, de 2016), a série é focada nas decisões tomadas nos bastidores do governo soviético que levaram a morte de milhares de cidadãos. Segundo Craig, Chernobyl é um docudrama (termo utilizado para filmes e séries com fortes similaridades à história real) que reproduz com detalhes todos os sacrifícios feitos pela população para deter a radiação. Com um tom sombrio, ele foca em diversos personagens reais que fizeram parte de camadas variadas da história. Durante os episódios, acompanhamos desde os bombeiros que deram suas vidas para apagar o incêndio aos cientistas que, contra todas as chances, investigaram a fundo os motivos dessa tragédia. O roteirista revelou em entrevistas que leu incessantemente sobre o assunto para responder a seguinte pergunta: Por quê? Para Craig, o fato de o acidente ter ocorrido em um teste de segurança é irônico e fascinante ao mesmo tempo. O elenco conta com Jared Harris (The Expanse), Stellan Skarsgård (Mama Mia! Lá Vamos Nós de Novo, 2018), Emily Watson (A Menina que Roubava Livros, 2013) e Donald Sumpter (o meistre Luwin, de Game of Thrones). Chernobyl já se tornou sucesso de crítica, ocupando o primeiro lugar das séries mais bem avaliadas no IMDB. A produção ultrapassou queridinhos dos fãs como Game of Thrones e Breaking Bad, com uma pontuação de 9,7. Os elogios que vem acumulando são demonstrados em uma história tensa, consistente e agonizante. Sendo uma oportunidade ideal para quem quer saber mais sobre um dos maiores desastres causados pelo homem.

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