Desde o ano passado, o governo da Austrália já vem pedindo para que Google e Facebook conversem com as empresas de mídia do país para tentar achar uma solução justa para ambos de como recompensá-las pelo uso do conteúdo desses sites. Como esse pedido não gerou resultados, o governo fará a arbitragem da negociação entre as duas empresas e representantes da mídia do país, que terão 45 dias para se chegar em um acordo. Caso não se chegue a acordo nenhum, é o governo australiano quem irá decidir como será feita essa compensação. De acordo com Josh Frydenberg, Ministro da Fazenda da Austrália, essa obrigação de compensação das empresas de tecnologia à mídia do país é uma forma de garantir maior competição no setor, maior proteção ao consumidor de notícias e manter um ecossistema de imprensa sustentável no país. Um estudo de 2019 indicou que, nos últimos dez anos, cerca de 3000 vagas de jornalistas foram extintas na imprensa tradicional australiana por conta de problemas de divisão de receitas no negócio digital. Já para Mel Silva, diretor do Google Austrália e Nova Zelândia, a decisão pode passar a mensagem errada para futuros investidores no país, que ficarão preocupados com o fato do governo interferir diretamente em seus negócios. Ele ainda afirma que a decisão não ajuda em nada a solucionar os desafios dos modelos de negócio dessas empresas na era digital.
Google e Facebook vs empresas de mídia
A disputa entre Google, Facebook e as empresas de mídia quanto a uma melhor remuneração pelo uso dos conteúdos desses sites não é algo novo, e um possível abuso em como funcionam os sistemas de anúncios dessas gigantes da tecnologia (algo que foi pauta de uma audiência no Congresso dos Estados Unidos esta semana) é uma das fundações de todo este debate. De sua parte, Google e Facebook alegam que são responsáveis por levar milhões de usuários diariamente para sites de notícias — o que é uma realidade. A grande maioria dos acessos de um site jornalístico vem de pesquisas do Google ou de postagens nas redes sociais, e apenas uma pequena parte provém de acesso direto (quando a pessoa digita o endereço do site no navegador). Mas ao mesmo tempo que essas empresas de tecnologia são responsáveis por aumentar o público de um site, elas também são responsáveis por diminuir em muito o faturamento desses veículos com a forma como controlam todo o sistema de anúncios online. Por exemplo, a versão física de um jornal de grande circulação tem total controle sobre o quanto irá cobrar para que uma empresa anuncie em suas páginas, e todo o valor cobrado do anunciante entra para os cofres do jornal. Isto não acontece na internet, onde a principal forma de remuneração está na exibição de anúncios do Google Ads. O problema desses anúncios é que eles são totalmente controlados pelo Google, que define o quanto estes sites irão receber — e esta divisão atualmente não é muito justa. Isto porque, enquanto o preço médio para os anunciantes do Ads é algo entre US$ 1 e US$ 2 por clique, o preço pago para os produtores de conteúdo pelo Google está na média de US$ 0,60 a cada mil visualizações. E, mesmo que essas companhias de mídia queiram, elas não conseguem se separar do Google, já que a maioria das empresas de publicidade investe apenas no Ads, que é uma solução muito barata para o tipo de resultado que oferece. Algo ainda pior acontece no Facebook: ainda que a rede social traga muitos leitores para um site, o Facebook precisa dessas notícias para criar interações entre os usuários e mantê-los na plataforma para que eles possam ver os anúncios da rede social. Mas, além de muitos vezes não pagar nada pelo uso dessas notícias (o Facebook tem testado um sistema de divisão de anúncios parecido com o do Ads, mas nesse caso ele para de gerar visitas para o site porque o conteúdo deve ficar todo dentro da rede social), ele muitas vezes obriga as empresas de mídia a pagar (o chamado “post patrocinado”) para que elas possam atingir uma parcela significativa do próprio público na rede social. Fonte: Reuters