Em sua essência, um computador é uma máquina que processa dados. Mas ele também já foi uma máquina de fazer cálculos, ou seja, de computar. Atualmente, é claro, os computadores são muito mais que isso e há quem tenha quase uma vida inteira guardada na máquina. Confira alguns fatos históricos sobre essa preciosidade tecnológica.
Stonehenge foi o primeiro computador?
Se você está se perguntando se o Stonehenge que estamos falando é aquela estrutura de pedras misteriosas que devem parecer assustadoras em uma noite de sexta-feira 13, sim, é ela mesma. Pois bem, acredita-se que a estrutura erguida em cerca de 3.000 a.C, com três fases distintas de construção (separadas por muitos anos de diferença) foi, na verdade, o primeiro computador, já que era usada para prever alguns eventos astronômicos. Assim, acredita-se que Stonehenge tenha sido o primeiro computador, visto que sua função básica era auxiliar nos cálculos de fenômenos como eclipses, por exemplo. Através das pedras, era possível prever o alinhamento dos corpos celestes e tais fatos orientavam ações nos costumes da época, como a agricultura e a guerra. Isso faz do computador algo muito mais antigo do que podemos imaginar (e desde essa época ele já controlava a vida das pessoas). Vale ressaltar que, como houve três fases distintas de construção, é possível que o local também tenha sido usado como templo religioso. É como se cada responsável por uma fase tivesse uma ideia diferente do que fazer com o local.
Mecanismo de Antikythera: o tataravô do computador moderno
Agora, se você não acha muito viável a ideia de que Stonehenge tenha sido o primeiro computador, talvez acredite que o Mecanismo de Antikythera ocupe o posto. Com mais de 2000 anos e feito de bronze, ele é considerado o primeiro computador analógico do mundo. O objeto foi achado em uma ilha grega (da qual carrega o nome, Antikythera) no início dos anos 1900 e levou-se um bom tempo para compreender que a engenhoca que mais parece uma pedra cheia de bolor fosse realmente uma ferramenta muito potente. Sua construção é cheia de significados: desde a forma como os gregos acreditavam que era a orientação dos planetas até números importantes para a astronomia nas engrenagens. No princípio, acreditava-se que o Mecanismo de Antikythera era usado para traçar movimentos dos planetas, prever eclipses, sinalizar jogos olímpicos e até fazer contas básicas. Porém, mais tarde se descobriu que ele poderia ser um guia sobre a galáxia (não, não era como em O Guia do Mochileiro nas Galáxias). Não se sabe exatamente quem o inventou, embora muitos atribuam o feito ao famoso Arquimedes. O que realmente surpreendeu os estudiosos é que a precisão com a qual a engenhoca rastreava os corpos celestes era imensa.
Ábacos são computadores?
Enquanto o Mecanismo de Antikythera estava perdido em ilhas gregas esperando ser encontrado, a Europa e a Ásia se viravam para fazer contas em ábacos. Se você mostrar um ábaco para uma criança e falar que ele é um computador, é bem provável que ela ria da sua cara (e talvez falar que não dá para jogar nada nessa “coisa”). Porém, se compararmos a funcionalidade, o ábaco era usado para fazer cálculos, assim como o computador. Aos poucos, o ábaco foi adaptado para ter variações em diferentes regiões do mundo. O Suàn Pán, ábaco chinês, foi usado na construção da muralha da China, por exemplo.
A máquina diferencial de Charles Babbage
A máquina diferencial, inventada pelo cientista Charles Babbage, ainda não tem a “cara” de um computador, mas é um sinal de quando ele já começa a ganhar forma. O invento era usado para fazer cálculos com polinômios e, embora tenha sido um recurso avançado, nunca foi realmente usado em escala industrial. A máquina recebia dados, processava e os exibia, bem como um computador atual. Foi assim que Babbage se tornou o “pai do computador”. Porém, seu projeto de criar um modelo mais complexo não chegou a se realizar. Mesmo assim, o mecanismo analítico e o sistema de perfurar cartões guiou o que seria a modernização da computação.
A primeira pessoa a programar foi uma mulher: Ada Lovelace
Toda vez que alguém imagina que computação é “coisa de menino”, Ada Lovelace se revira no túmulo. Isso porque ela foi a primeira pessoa a escrever um programa de computador, ou seja, a primeira programadora da história. Lovelace nasceu em 1815 e era filha do poeta Lord Byron. Foi enquanto trabalhava com Babbage que, ao fazer a tradução de um artigo, fez várias anotações sobre ele. Então, ela escreveu um código que poderia detalhar sequências de números de Bernoulli na máquina analítica de Babbage. Surgia o primeiro algoritmo.
A contribuição de Alan Turing para a história do computador
Até agora, você já deve ter visto que o computador está começando a tomar a forma da máquina que conhecemos atualmente. A fundamentação teórica do computador moderno digital começou da ideia de Alan Turing quando ele estava terminando seus estudos em Cambridge. Em uma publicação em 1936 (On Computable Numbers, with an application to the Entscheidungsproblem), Turing propõe uma solução para um problema que era aparentemente impossível, o Entscheidungsproblem (e impossível de se pronunciar também, né?). Porém, para isso, Turing também propõe a criação de uma máquina universal que poderia computar qualquer número oriundo de operações matemáticas, ou seja, qualquer problema que pudesse ser expresso simbolicamente. Turing criou sua máquina universal – chamada máquina de Turing – baseando-se na forma como a mente humana faz cálculos. É a ideia abstrata de um computador. A grande sacada de Turing foi justamente pensar na forma como a mente humana computava os números e não como as calculadoras da época o faziam. A ideia, então, muda de tabelas para uma sequência lógica em que há mudança de estados do que é calculado dependendo da situação. Isso é chamado de “tomada de decisão”.
A arquitetura de von Neumann
John von Neumann é um dos grandes nomes que caminham ao lado de Turing na história do computador. Dentre suas inúmeras contribuições, uma delas foi a ideia de arquitetura de programa armazenado, na qual é possível armazenar os programas no computador e não precisar alimentar a máquina com eles toda vez que for usar. A ideia de von Neumann teria os seguintes componentes: memória, unidade aritmética e lógica e uma unidade central de processamento (também conhecida como CPU). Além disso, haveria uma unidade de controle que faria a busca do programa na memória e o executaria, seguindo as instruções do algoritmo. Muito próximo do computador que conhecemos. Em resumo, com sua brilhante ideia, von Neumann reduziu o imenso trabalho de nos fazer instalar um sistema operacional toda vez que quiséssemos usar um computador. Surge então a base do computador moderno.
Grace Hopper, a vovó do COBOL e o UNIVAC
Grace Hopper é conhecida como a vovó do COBOL (Common Business Oriented Language, algo como “Linguagem Orientada para os Negócios em Comum”), a primeira linguagem de computador “humana”. Hopper também é carinhosamente chamada de Rainha da Computação, Grande Dama do Software e outros títulos ilustres. Hopper foi almirante e analista de sistemas da Marinha dos Estados Unidos entre 1940 e 1950. Lá, ela criou a linguagem de programação chamada Flow-Matic, que serviu como base para o COBOL. Mesmo que ela não esteja diretamente ligada ao surgimento do COBOL, essa linguagem provavelmente não existiria sem ela. Uma curiosidade é que Grace Hopper também está ligada ao termo “bug” na computação. Ela procurava qual era o problema do seu computador quando descobriu que havia um inseto (um bug, em inglês) dentro dele. O computador de Hopper estava literalmente “bugado”. Hopper também trabalhou como parte da equipe responsável por desenvolver o UNIVAC I, o primeiro computador comercial dos Estados Unidos. Várias empresas compraram o UNIVAC I por uma pequena fortuna na época. Na década de 60 até o Brasil tinha um (adquirido pelo IBGE também por uma pequena fortuna).
A revolução do transistor
O transistor – aquela pequena pecinha semicondutora capaz de trocar sinais eletrônicos – foi fundamental para o computador moderno. Sua necessidade surgiu do fato de que os computadores usavam algumas válvulas que não eram nada práticas nem eficientes. Foi só em 1947 que surgiu o transistor, oriundo de pesquisas do laboratório da Bell Telephone. Os cientistas perceberam que o sinal era amplificado quando aplicavam tensão em um dos terminais. Então, eles descobriram que poderiam usar vários transistores juntos e voilà, revolucionaram os computadores. Presente em quase todos os eletrônicos modernos, o transistor foi aprimorado com o tempo e permitiu a redução no tamanho dos computadores, abrindo a brecha para que o uso dessas máquinas deixasse de ser apenas comercial e pudesse ser pessoal.
Apple x Microsoft e os computadores pessoais
Quase todo mundo que já assistiu algum filme do Steve Jobs ou da história da Apple sabe que a dupla de Steves (o Jobs e o Wozniak) e Bill Gates tiveram uma parcela de contribuição na história do computador, tornando-os mais populares. O Apple II, lançado em 1977, por exemplo, é considerado um dos primeiros computadores pessoais. Porém, o Apple II não era muito intuitivo e ainda era muito “coisa de nerd”. Há quem considere que o primeiro computador pessoal realmente voltado para o usuário foi o IBM PC 5150. O design desses primeiros computadores já é muito mais parecidos com o conceito de computador que temos em nossas cabeças, com um monitor, uma CPU e um teclado.
A revolucionária e maravilhosa internet
Ah, a internet, esse objeto virtual favorito do brasileiro… Apesar de não estar ligada somente ao computador em si, a internet é um grande marco na história da computação (dá até para dividir o mundo em antes e depois da internet). Isso porque ela conectou o mundo, literalmente, e permitiu o avanço da humanidade em diversos sentidos. A internet foi revolucionária não só para o uso pessoal, mas também para a economia e os negócios globais (a boa e velha globalização). Pense como era a vida de muitos de nós que precisávamos recorrer a informações em jornais e esperar sair a atualização das enciclopédias para conseguirmos fazer um trabalho de escola e em como é a vida de um aluno hoje que tem milhões de informações sobre um tema em segundos, por exemplo.
Computação quântica: o que o futuro nos reserva
A cada dia nós vemos uma atualização na computação quântica, o Santo Graal da computação atual. Isso porque estamos cada vez mais perto de um computador quântico, mas precisamos desenvolver muita tecnologia para atingir esse “outro nível”. No sentido revolucionário, o que a computação quântica nos promete é incrível. A criptografia, por exemplo, deixa de ser segura, mas a nova tecnologia tem outras formas de segurança, como as que envolvem o entrelaçamento quântico e pares de fótons conectados carregando informações. O maior problema é que na quântica nada funciona exatamente da forma que estamos acostumados (ou seja, esqueça o que você aprendeu na mecânica clássica de Newton). Então, precisamos de materiais específicos que proporcionam fenômenos que são, até então, só conceitos. No fundo, a história da computação nos mostra que o que foi feito, até o momento, vai muito além de tentar criar uma máquina para facilitar a vida humana. O avanço da computação representa a mente humana tentando desenvolver algo que supere a si mesma. Fontes: Interesting Engineering; Cs.uri