Eu testei duas versões do aparelho, Galaxy Watch LTE 46mm e Galaxy Watch Bluetooth 42mm, encontrados no mercado a partir de R$ 2.199,00 (BT 42mm), e R$2.699,00 e conto para vocês como foi esta experiência, e quais impressões foram tiradas.

Design

O primeiro relógio lançado pela Samsung, o Galaxy Gear, apresentava um design retangular, copiando o formato das telas dos smartphones. A partir de 2015, no mesmo ano em que a Apple apresentou seu Apple Watch, também retangular, a Samsung mudou seu design e apostou em um conceito redondo, como os clássicos relógios analógicos, que se consagrou e é mantido até hoje com o Galaxy Watch. O Galaxy Watch é a escolha perfeita para quem gosta de tecnologia e não abre mão do estilo. Com o slogan “Se você tem estilo, seu smartwatch também precisa ter”, ele tem a caixa (nome dado ao corpo do aparelho) construída em aço inox 316L, material ideal para um aparelho resistente a água. Ele apresenta pintura Midnight Black ou Rose Gold, na versão 42mm, com detalhes usinados em sua superfície, e sua versão 46mm recebe a coloração Silver, em aço polido.

Nas laterais do aparelho, há furos para captação do microfone e saída de áudio. Na direita encontramos os botões de comando, com acabamento na mesma cor do corpo e miolo com uma superfície emborrachada. Na traseira do aparelho, podemos observar o sensor HRM em relevo, para melhorar o contato com a pele e proporcionar uma melhor leitura da frequência cardíaca. O display SuperAMOLED possui ótimo contraste, e permite que seja utilizada a funcionalidade Always On Display, mantendo a tela sempre ligada. Desta forma o relógio apresenta informações na tela o tempo todo, ao custo de autonomia reduzida de bateria. A proteção do display fica por conta da aplicação do Corning Gorilla Glass DX+, que apresenta melhora de 75% nos reflexos e 50% no contraste da tela em relação ao vidro comum. Como visto em relógios analógicos, há uma escala 0-60 ao redor da tela, útil para leitura das horas ao utilizar watchfaces de mostradores com ponteiros. Em volta da tela há a coroa giratória presente nos aparelhos Samsung, servindo para navegação na interface do sistema Tizen e nos aplicativos instalados.

O relógio é fornecido com uma pulseira de silicone preta com um design discreto, podendo ser usada desde a prática de esportes a momentos formais. A Samsung anuncia que há 3 opções para o modelo 46mm, e 8 opções para o modelo 42mm. Lojas especializadas em acessórios disponibilizam opções compatíveis de outras marcas em metal, couro e silicone.

Hardware

O Galaxy Watch apresenta o SoC Exynos 9110 Dual Core 1.15 GHz. Este processador é fabricado com o processo de 10nm, e foi desenvolvido especialmente para wearables, visando melhor autonomia de bateria. A memória RAM apresenta duas variações conforme a versão: 768MB para a versão Bluetooth, e 1,5GB para a versão 4G/LTE. No uso cotidiano, o aparelho apresentou uma boa performance, sem travamentos e com transições fluidas na interface. No entanto, ao utilizar monitoramento de corrida com música ligada (situação comum em treinos), a versão BT apresentou alguns engasgos, chegando até a dar pequenos pulos nas músicas. Já o armazenamento é um ponto negativo para o relógio: apenas 4GB podem ser suficientes para rodar o sistema e instalar alguns aplicativos, porém se você tem intenção de ouvir música enquanto utiliza apenas o wearable, sem o celular conectado, haverá uma limitação para a quantidade de músicas armazenadas, seja na memória do aparelho ou através de aplicativos como o Spotify. Vale lembrar que seu concorrente mais famoso, o Apple Watch 4, conta com folgados 16GB de armazenamento. O display SuperAMOLED apresenta resolução de 360×360 pixels. O contraste e as cores apresentam a mesma qualidade vista na linha de smartphones da Samsung, mantendo uma ótima experiência visual.

Diferentes versões

A diferença no tamanho das versões se reflete no tamanho físico do display, e por consequência na densidade de pixels: a versão 42mm tem display de 1,2 polegada com 302 DPI, enquanto a versão de 46mm apresenta display de 1,3 polegada com 282 DPI. Outra característica que apresenta diferenças conforme o tamanho é a bateria: enquanto o modelo de 42mm porta uma bateria de 270mAh, o modelo de 46mm conta com uma bateria de 472mAh, a maior capacidade em um smartwatch. Esta grande diferença se reflete na autonomia dos modelos: o menor fica até 2 dias longe da tomada, enquanto o maior pode ficar até 6 dias, dependendo do uso do aparelho. Em termos de conectividade, o aparelho possui Bluetooth para pareamento com smartphone e fone de ouvido. A conexão Wi-Fi 802.11 b/g/n 2.4GHz permite que o aparelho permaneça conectado à internet sem a necessidade do smartphone. Para localização, há GPS e GLONASS. O NFC permite pagamento através do Samsung Pay (não há mais o MST, que emula a tarja magnética, presente no Gear S3). E para o modelo LTE, como não podia ser diferente, há conexão com redes 4G/LTE através de eSIM, que depende de disponibilidade da operadora. Este modo de conexão permite que o relógio seja completamente independente do smartphone, permanecendo com conexão de dados e recebendo e efetuando chamadas.

Sistema Operacional

A Samsung optou pelo Tizen, sistema operacional desenvolvido pela Linux Foundation em conjunto com a própria Samsung, Panasonic e Intel, para aplicação em múltiplos dispositivos, incluindo smartphones, wearables e sistemas residenciais e automotivos.

Nesta versão 4.0, destaca-se a entrada de dados por voz através do Bixby, o assistente virtual da Samsung, que substitui o S Voice. Para funcionar o aparelho deve estar conectado à internet (pareado com smartphone, via Wi-Fi ou 4G), pois não há capacidade no aparelho para executar este tipo de aplicação. Para efetuar ações de sistema, como uma entrada de calendário ou adicionar um alarme, o Bixby compreende apenas comandos em inglês. Já para entrada de texto, nos aplicativos do sistema e de terceiros, o Bixby aceita palavras em português, com uma boa taxa de acerto das palavras. A interface do relógio recebeu elementos para aprimorar o efeito de um relógio de verdade. Se você chegar perto do aparelho, poderá ouvir um leve tic-tac, como em relógios analógicos – mas apenas se você quiser, pois o recurso vem desabilitado por padrão. O relógio também pode emitir um bipe nas horas cheias, como nos relógios digitais tradicionais. Com o giroscópio integrado, movimente o relógio e você verá que reflexos e sombras dos ponteiros das watchfaces acompanham o movimento. Para usuários de aparelhos Android, o assistente diário apresenta um Bom Dia, informando compromissos, lembretes e previsão do tempo para o dia. Ao final do dia, um Resumo do Dia, com um resumo das atividades rastreadas pelo Samsung Health, e uma prévia do dia seguinte. A instalação de aplicativos no Galaxy Watch ocorre pelo app Galaxy Wearable, instalado no seu smartphone através da loja de aplicativos da Samsung. A escolha da Samsung pelo Tizen como sistema operacional acaba limitando as opções de aplicativos disponíveis para o relógio, pois os desenvolvedores direcionam seus esforços ao Wear OS, do Google.

Dia-a-dia com o Galaxy Watch

Recebemos o aparelho com a base de carregamento e a fonte, e notamos um fato curioso: a Samsung está implementando o USB-C como padrão para sua linha de smartphones, no entanto a base de carregamento do Galaxy Watch possui uma entrada micro USB, que está sendo descontinuada. Aparelho em mãos, a sensação é de que estamos segurando um… relógio. E o design da Samsung tem justamente esta intenção, de oferecer uma experiência de uso o mais próxima possível de um relógio convencional. Ao colocar o relógio no braço, a pulseira de silicone é facilmente manuseável, deslizando facilmente dentro da presilha, prendendo sem dificuldades. Mexendo o braço, o sistema mostra uma watchface com ponteiros analógicos, além de indicadores de passos e carga de bateria. A coroa deslizante do relógio mostra a que veio: transições de tela e seleção de itens nos aplicativos sem a necessidade do dedo tampando as informações do display. Nossa primeira ação com o aparelho: parear com um smartphone, neste caso um Samsung Galaxy A8. Como estamos dentro do mesmo ecossistema, ao parear os aparelhos via Bluetooth o telefone reconhece o smartwatch e instala automaticamente o app Galaxy Wearable.

Através deste aplicativo, é possível visualizar informações sobre o relógio como status de bateria, armazenamento e memória RAM, além de realizar todas as suas configurações. No app também é possível transferir conteúdo para o Watch, como imagens e arquivos MP3 (ainda que o armazenamento disponível seja pequeno), selecionar watchfaces e instalar aplicativos através da loja da Samsung. Como já dito anteriormente, as opções são limitadas em função do sistema operacional, e dentre os aplicativos mais baixados a maioria são watchfaces. Os apps que mais nos interessaram foram o Spotify e o Strava, que instalamos para testes e falaremos a seguir. O sistema já vem com algumas opções de watchfaces, dentre as quais destacamos algumas otimizadas para determinados perfis: há um minimalista, em que é mostrado apenas os ponteiros analógicos, data e compromissos agendados; há um esportivo, em que o foco é a contagem de passos e um botão para início rápido de monitoramento de exercícios; e há um completamente customizável, com o horário no centro e quatro campos que podem informar desde o nível de bateria até o horário do pôr do sol.

Ao começar a usar o relógio, um estranhamento para quem é novato com smartwatches: a vibração de notificações chegando no aparelho. Esta é uma das partes que mais me chamou atenção no uso cotidiano, receber uma prévia de mensagens direto no aparelho, sem precisar sacar o smartphone do bolso. O Galaxy Watch é capaz de exibir todas as notificações que o smartphone recebe, e caso sejam muitas pode ser um incômodo; neste caso é possível selecionar através do Galaxy Wearable quais notificações devem ser exibidas no aparelho. No uso cotidiano, a principal notificação foi a do WhatsApp, e junto com ela vem a frustração: por não ter um aplicativo dedicado (em que se pondere que não há para nenhuma plataforma de smartwatches), são exibidas apenas as informações da notificação do Android, sem prévia de imagens e sem conseguir ouvir mensagens de áudio. Através das notificações, é possível responder com pequenas frases e palavras pré-determinadas, ou então digitando com o teclado do aparelho ou por reconhecimento de voz do Bixby. Seria interessante se houvesse, através de implementação do próprio WhatsApp, forma de responder com mensagens de voz diretamente no Galaxy Watch. Outras notificações também copiam o mesmo conteúdo mostrado no Android, com destaque para o Instagram, que tal e qual no celular mostra a imagem que recebeu comentários e curtidas. Para dispensar as notificações, basta arrastar para cima, ou então navegar até a opção Apagar todos. Importante registrar que em momentos onde haviam muitas notificações abertas, o aparelho apresentou uma pequena lentidão nas transições de tela. A partir do momento em que o relógio está no seu pulso, o Samsung Health registra toda a sua atividade. Através dos sensores instalados no aparelho, o sistema é capaz de perceber padrões de movimento que resultam em contagem de passos, subida de escadas e até  a execução de atividades físicas específicas, como ciclismo e corrida. Também interessante a medição de altitude e o barômetro: se ocorre uma queda acentuada na pressão atmosférica, o relógio avisa que pode estar vindo uma chuva (e de fato: toda vez que chovia, verifiquei o gráfico que registra as últimas 6 horas da pressão atmosférica, e sempre havia uma queda de pressão anterior à chuva. Física e termodinâmica demonstradas em tempo real). O Health também pode registrar sua frequência cardíaca e monitoramento do sono – o que é um desafio, visto a limitada autonomia do modelo testado. Caso o sistema perceba que você está estressado, será sugerido uma pausa para um rápido exercício de respiração; pelos nossos testes, de fato uma nova medição após o exercício de respiração aponta queda do estresse. O sistema também pode perceber que você está há muito tempo inativo, sem se movimentar, e sugere que você movimente os braços, ou dê uma rápida caminhada.

Com a maior disponibilidade de meios de pagamento compatíveis com NFC nos estabelecimentos comerciais, é muito bem vinda a integração do Samsung Pay no Galaxy Watch. O app já vem integrado no relógio, não sendo necessária instalação. Para acionar o Pay, basta segurar por instantes o botão Voltar e o app abre, mostrando os cartões cadastrados. Para liberar um pagamento, basta inserir um PIN cadastrado no momento da configuração do app, e então aproximar o relógio da máquina de cartão. Os cartões cadastrados serão os mesmos utilizados no smartphone, porém é necessário solicitar ao banco uma autorização para uso no Watch.

Um ponto importante a ser considerado: ao conectar o relógio ao seu smartphone o app Galaxy Wearable permanece ligado e os dois aparelhos mantêm comunicação constante, e por isso percebemos uma queda na autonomia de bateria do telefone. Outra observação que fizemos: durante a prática de exercícios físicos, em que a pele fica suada, o relógio apresenta dificuldade para leitura da frequência cardíaca, sugerindo que se prenda melhor o relógio ao pulso – ainda que ele já estivesse com a pulseira bem justa.

Apps

O Spotify permite que se escute músicas online – caso o aparelho esteja ao alcance de uma rede Wi-Fi, ou esteja usando a versão LTE – ou offline, para os assinantes Premium da plataforma. Para que o relógio acesse sua conta do Spotify, é necessário acessar o site da plataforma e definir uma senha para dispositivos – eu particularmente não tinha utilizado este procedimento até então. Feito isso, a senha é inserida no app instalado no Galaxy Watch, e então basta navegar e escutar músicas. Para fazer o download de músicas para o aparelho usa-se a mesma dinâmica presente no app para smartphones: ao acessar uma playlist, basta selecionar o modo offline e será feito o download através do Wi-Fi. Durante o uso do app, após 20 segundos de ociosidade, o relógio volta para a tela inicial, e é preciso procurar no menu o ícone do Spotify para trocar músicas ou abaixar/diminuir o volume. Para que fique mais fácil, é possível adicionar um widget na tela principal, que dá acesso fácil a estes comandos. Um caso curioso ocorreu após baixar playlists: ao receber ou efetuar chamadas no telefone pareado, quando a chamada era encerrada o relógio iniciava a música do Spotify automaticamente. Não encontramos configuração para desfazer este comportamento, porém depois de algum tempo deixou de ocorrer. O Strava faz o registro de exercícios como caminhada, corrida e ciclismo. Durante seu uso, devido à necessidade de obter a localização em tempo real, o GPS permanece ligado e limita a autonomia do aparelho. Ao contrário do Spotify, o Strava permanece como o último aplicativo aberto, facilitando a visualização do monitoramento do treino. Devido a limitações da própria plataforma, não é possível carregar treinos personalizados no app, ficando este limitado apenas ao registro de atividades; para estas finalidades, há opções mais adequadas, como os computadores de treino da Garmin. Particularmente, seria recomendado o uso do Strava apenas se você já é usuário da plataforma e faz uso de outros dispositivos de monitoramento, caso contrário o Samsung Health, nativo do sistema, cumpre a mesma tarefa. E como estes dois apps se comportam funcionando juntos? Um dos cenários mais comuns quando se pensa neste tipo de dispositivo é o acompanhamento de exercícios físicos, ouvindo música pra dar uma animada. Então, com o fone Bluetooth pareado, fui dar uma corrida sem o telefone, usando apenas o relógio. E é um alívio poder fazer seu exercício sem receber notificações, podendo manter o foco. Durante o exercício, as informações do Strava ficam à disposição na tela principal do aparelho; para trocar músicas no Spotify, é preciso girar a coroa para navegar até o widget do app, o que tira a atenção do exercício. Um problema percebido com a versão BT durante o uso destes dois apps, que consomem recursos ativamente, é a queda de performance do aparelho. Transições de tela se tornam lentas, um pouco travadas, e a reprodução de músicas por vezes sofria interrupções.

4G/LTE: conexões e as operadoras

Importante na hora de escolher entre as versões do Galaxy Watch é a disponibilidade do eSIM para a sua operadora. Atualmente, Claro e Vivo são as operadoras que disponibilizam este produto para seus clientes. O serviço da Claro se chama Claro Sync, e o hotsite aponta que é um serviço exclusivo para o Apple Watch – mas serve para qualquer dispositivo compatível com eSIM. Neste momento a operadora está oferecendo o serviço como um adicional para planos pós pagos por R$ 29,99 por mês, com os primeiros 3 meses gratuitos. Já a Vivo oferece o Vivo Sync, e o hotsite aponta que o serviço se presta ao Galaxy Watch. A operadora oferece o serviço como um adicional para planos pós pagos de forma gratuita por 1 ano, e após este período será cobrado adicionalmente R$ 19,99 mensais para seu uso. O que muda no dia-a-dia com a conexão 4G? De forma muito simples, você pode dispensar o seu telefone celular, pois o Galaxy Watch funciona de forma autônoma. O aparelho recebe e efetua chamadas de forma independente, na mesma linha do aparelho principal. Para fazê-lo, basta utilizar um fone de ouvido BT pareado, ou através do alto-falante do relógio. Além das chamadas, há também a disponibilidade constante de conexão com a internet, permitindo o funcionamento da Bixby e Spotify

Conclusão

O Samsung Galaxy Watch é um ótimo aparelho, tanto para acompanhar seu smartphone quanto trabalhando sozinho. A versão Bluetooth entrega uma ótima experiência para o usuário, entretanto a versão LTE torna-se interessante por possuir mais memória RAM e deixar o usuário livre da companhia do telefone celular. E o Tizen OS entrega uma boa experiência para o usuário, ao custo de pouca disponibilidade de aplicativos na plataforma.

Especificações

A versão testada é a BT , com diâmetro de 42mm e sem conectividade LTE. O preço sugerido pela Samsung é de R$ 2.199,00, enquanto a versão 46mm é encontrada por R$ 2.399,00.

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