Pensando em contextualizar o leitor que desconhece a franquia de livros e que, por acaso do destino, não só é assinante do serviço de streaming da Apple, mas também está ansioso pela série seja lá por quais motivos, construímos essa matéria para desenvolver uma corda, digamos assim, para que o espectador se sinta mais seguro e, quem sabe, leia os livros que, independente da série, são ótimos.
Adaptação dos livros de Asimov
Se você leu os primeiros parágrafos, já sabe que a série Fundação na Apple TV+ é uma adaptação dos livros do habilidoso escritor Isaac Asimov, um dos pais modernos da ficção científica. Escapando das inevitáveis traduções quase burlescas que povoam os títulos de filmes e livros, Fundação, no original, chama-se Foundation, título que a série da Apple TV+ também carrega. O mais importante, de início, é estar ciente que a história foi delineada, a princípio, em três livros, compilados e lançados, respectivamente, em 1951, 1952 e 1953 — daí surge o já consagrado epíteto, adorado por editoras para compor os box, de trilogia —, expandida mais tarde para outros quatro, publicados no fim dos anos 80 e começo dos 90; desses quatro, dois se passam antes dos eventos principais da trilogia original e dois funcionam como epílogo da epopeia galática. É bastante provável que a série aborde somente os três títulos originais e, no máximo, faça algumas referências a acontecimentos das outras obras; porém, considerando a presença de Demerzel, personagem introduzida numa das prequels, talvez tenhamos surpresas.
Livro 1 — Fundação
A estrutura narrativa é dividida em cinco capítulos maiores, por assim dizer — não são exatamente novelas e também não são contos, mas a terminologia literária pouco importa agora —, cada um deles interligado ao seguinte, formando uma espécie de corrente. Essa fórmula vai ser seguida nos outros livros também e, para um leitor desacostumado, pode parecer estranho de início, mas não há nada a temer. De qualquer maneira, a história do primeiro livro foca no estabelecimento da primeira Fundação no planeta Terminus por um homem chamado Hari Seldon. Seldon foi o responsável por desenvolver uma nova disciplina científica, a psico-história. De modo breve, usando essa ciência, os psico-historiadores conseguem prever acontecimentos de grandes sociedades unindo conceitos da sociologia e da matemática, analisados sob o prisma da psicologia. Isso, no entanto, só funciona em grandes sociedades, dado que, como bem sabemos, um indivíduo pode ser bastante previsível, mas um grupo regrado e funcional tende a ter suas ações e reações mais calculáveis. Justamente por prever a queda do Império Galáctico dali a 300 anos, Seldon é acusado de traição e convocado para responder às acusações. Como não se trata de nenhum Eddard Stark, ele sabe que isso também faz parte do seu plano. Perante os juízes, ele defende sua causa e consegue o que deseja: ser exilado em Terminus com outros cientistas (enciclopedistas, no caso) para desenvolver a Enciclopédia Galáctica, esta que será responsável por diminuir os anos de guerra pós-queda do Império de 30.000 para 1000. E assim nasce a Fundação, que enfrentará esse período de caos com outras figuras no tempo, começando com o prefeito de Terminus, Salvor Hardin. Tendo feito esse resumo breve, convém dizer que este primeiro livro lida com mais ou menos 160 anos desde o julgamento de Seldon.
Livro 2 — Fundação e Império
Ao contrário do seu predecessor, o segundo livro da franquia é dividido em somente duas partes. É bastante possível que a série Fundação na Apple TV+ use o maior antagonista da história em seu roteiro; ele aparece justamente aqui, quando uma das crises supostamente previstas por Hari Seldon ganha um desfecho “improvável”. Esse vilão é chamado Mulo, um mutante cujas habilidades são sentir e manipular as emoções alheias, o que ele faz para conquistar vários planetas e ameaçar o domínio da Fundação, que se tornou, na época, o poder dominante após o colapso do Império. O leitor toma conhecimento, nessa parte da narrativa, da existência de uma segunda Fundação; a única pista do seu paradeiro deixada por Seldon é que ela se encontra do outro lado da galáxia. Nem mesmo os membros da primeira Fundação sabem qualquer coisa sobre ela, e, ao decorrer do livro, fica claro que os únicos que podem parar o Mulo são os habitantes desse segundo pináculo do conhecimento. Novamente no campo das suposições, talvez os episódios da primeira temporada de Fundação na Apple TV+ acabem justamente quando o Mulo supostamente consegue o que deseja.
Livro 3 — Segunda Fundação
Também dividido em duas partes, o terceiro livro, cujo nome pode ser um pouco confuso para quem não for muito bom com números, versa sobre as buscas desesperadas do Mulo para encontrar a segunda Fundação e, mais tarde, sobre os resultados dessa busca e as consequências dela para a população do Império e para a primeira Fundação. Tudo isso ficou bastante vago, mas é difícil falar sobre esse livro sem dar spoilers que podem acabar estragando a experiência tanto do leitor quanto do espectador da série Fundação na Apple TV+. Dada a natureza da segunda parte do livro, convém imaginar que, talvez, a adaptação pare no fim do segundo livro, mencionado brevemente na seção anterior. Isso, é claro, fica a cargo dos roteiristas e produtores da Apple, não de nós, reles mortais. De qualquer maneira, a torcida é para que a série seja boa e não esqueça nada do que faz os livros sensacionais do jeito que são, como toda a jogada política e científica do enredo.
Fundação na Apple TV+
Uma das maiores inovações realizadas pela série da Apple TV+ é a mudança de gênero de várias personagens, tais quais o próprio Salvor Hardin, que será interpretado por Leah Harvey, e Demerzel, personagem relevante introduzido numa das prequels, que será interpretado por Laura Birn. Outro destaque vai para o papel de Hari Seldon, pertencente ao grande Jared Harris, conhecido por interpretar o professor Legasov na série Chernobyl da HBO, e o rei George VI na série The Crown, da Netflix. Vale lembrar que a filha de Isaac Asimov, Robyn Asimov, está presente no projeto de Fundação na Apple TV+ desde o início e foi responsável por supervisionar a produção. Resta torcer para que a série faça bonito e não desaponte os fãs ou o próprio autor; aproveitando o momento memória, ressalto também que, ao longo dos anos, houve algumas conversas sobre possíveis adaptações da franquia, mas nenhuma delas prosseguiu. Convenhamos, adaptar uma série de livros não-linear, sobre ficção científica no mais puro sentido do gênero, não é um trabalho muito fácil. Talvez, por isso, toda a apreensão com a nova série. Fundação, ou Foundation, estreará no dia 24 de setembro (aniversário de 20 anos do jogo Silent Hill 2, por sinal) com três episódios na Apple TV+. Depois, os outros sete episódios da primeira temporada sairão semanalmente na plataforma. A assinatura da Apple TV+ custa R$9,90 por mês — e você ainda pode ganhar três meses de assinatura do Apple TV+ na compra do iPhone, iPad, iPod touch, Apple TV ou Mac.